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O diretor executivo do SIAMFESP, Celso Davi Rodrigues, representando o Sindicato, participou do evento “Desafios e Oportunidades de Parcerias Tecnológicas entre Indústria e Universidade”, promovido pela Fiesp, no dia 26 de setembro, com a participação de representantes do governo, da academia e do setor produtivo.

Site 338 foto 3Na abertura, Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Fiesp, disse que esse é um tema que preocupa a indústria há muito tempo e que a questão da parceria tecnológica entre indústria e universidades é muito importante.

“O objetivo do seminário é verificar e entender essa questão sob a perspectiva das universidades, da indústria e dos Institutos de Ciência e Tecnologia”, afirmou.

Dados do Índice Global de Inovação (GII) 2023, publicado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO), revelam que o Brasil é a primeira economia em inovação na América Latina e Caribe, mas a 49ª posição (de 132) no ranking global.

“Nos últimos quatro anos, desde a pandemia, estamos entre os que mais progrediram no ranking, mas ainda muito aquém do potencial brasileiro”, destaca Antônio Carlos Teixeira Álvarez, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp.

No entendimento de Teixeira, inovar no Brasil ainda é um desafio porque existem barreiras econômicas, regulatórias e culturais. Países que priorizam inovação, mesmo em tempos de incerteza, demonstram maior resiliência a crises e capacidade de recuperação.

Segundo ele, apesar de o setor industrial ter um bom investimento em processos de pesquisa e desenvolvimento empresarial, o relacionamento com a academia ainda é inferior ao desejado.

“A inovação é um processo de longo prazo, mas que exige ações concretas hoje. Universidades, empresas e governo devem caminhar lado a lado para criar um ecossistema de inovação vibrante, sustentável e integrado”, pontou Teixeira.

De acordo com Ricardo Terra, diretor regional do Senai-SP, o momento de debater como conectar indústria, universidades e ICTs é oportuno e ímpar por inúmeras razões. Entre elas, diz ele, a Nova Indústria Brasil (NIB), um plano estratégico do governo federal para revitalizar e impulsionar o setor industrial do país até 2033, com foco em inovação, sustentabilidade e desenvolvimento tecnológico.

“Queremos caminhar juntos com a academia e concebermos propostas conjuntas”, disse Terra.

O seminário teve três painéis nos quais foram abordados os desafios e as oportunidades no relacionamento das universidades e instituições científicas e de inovação tecnológica com as empresas.

Para o coordenador executivo da Agência de Inovação da Universidade de Campinas (Unicamp), Renato Lopes, um bom começo seria mudar a mentalidade. “Mas a questão cultural é algo muito difícil de ser mudada”, admitiu.

Unir o conhecimento produzido na academia à aplicação prática pela indústria deveria ser algo mais natural. O coordenador da Unicamp disse que os trabalhos acadêmicos publicados em parceria com a indústria costumam ter mais aceitação, o que traz uma vantagem para o trabalho entre as instituições.

Doutores na indústria – Uma das sugestões de Lopes é a contratação de doutores pela indústria. “A maioria dos doutores está na academia ou no governo, mas muito poucos na indústria, o que dificulta a interface. Eles poderiam facilitar a construção de pontes entre indústria e universidade”, acredita.

A interação com a indústria poderia, inclusive, ajudar a resolver um problema sério de atratividade da pós-graduação, cada vez menos procurada. “Não só pela falta de bolsa, mas pela falta de interesse. E se tivermos mais contratações na indústria, mais empreendedorismo, poderemos ter um remédio para vários outros problemas da universidade e da indústria”, sugeriu.

Descrita como o uso do conhecimento para gerar valores tangíveis e intangíveis, a Economia do Conhecimento foi citada pelo pró-reitor adjunto de Inovação da Universidade de São Paulo (USP), Raul Gonzales Lima como uma oportunidade não aproveitada pelas instituições de pesquisa.

Adaptação às mudanças – “A academia não reagiu corretamente a essa mudança da sociedade, à chegada da Economia do Conhecimento. E a crise que nós temos é de vocação, porque nos últimos 200 anos, a academia mudou diversas vezes e teve que se adaptar ao sistema de pesquisa, ao sistema de extensão, e agora ela precisa se adaptar aos sistemas de inovação. E isso está ocorrendo com passos tímidos”, argumentou Lima.

No estado de São Paulo, a maior parte dos professores trabalha em regime de dedicação integral ao ensino e pesquisa, onde existe estrutura para geração de conhecimento. Mas, de acordo com o professor Laurindo de Salles Leal Filho, da Universidade de São Paulo (USP), esse sistema não é sustentável, pois depende de um fluxo contínuo de recursos de estado para continuar funcionando.

“Isso nos coloca na 13ª posição no ranking mundial de publicações em revistas indexadas. Precisamos achar o ponto comum entre academia e indústria. Cada uma fazendo o que sabe fazer de melhor: gerando conhecimento e riqueza”, disse Leal.

Ele considera insuficiente ter apenas um sistema de inovação baseado na produção de artigos científicos. “Esse conhecimento deve ser transferido para indústria, e construído junto com a indústria, dentro do possível. Não é uma missão intransponível, mas não pode ser negligenciada”, concluiu.

Para acompanhar o seminário na íntegra, clique aqui.

Fonte: Fiesp